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sexta-feira, dezembro 21, 2012

O futuro dos Blogs evangélicos EM 2012

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João Cruzué

A internet democratizou e globalizou a comunicação. Se antes a informação era restrita a meia dúzia de grandes jornais  e três ou quatro revistas, hoje temos centenas de fontes em língua portuguesa e milhares, em inglês. No segmento evangélico, até a virada para  século XXI, a restrição era ainda maior, e da mesma forma, também temos centenas de boas fontes. Não há pelo que eu saiba até agora uma data que marca o aparecimento dos primeiros blogs evangélicos. Eu comecei oficialmente em 2005, mas creio que deve ter sido 2004, o ano que este fenômeno começou. De lá para cá, principalmente nos últimos três anos, a blogosfera evangélica explodiu. A cada ano tenho feito uma análise do assunto e as perspectivas para 2013 e anos futuros são muito promissoras.

Os blogs caíram no gosto das lideranças evangélicas. Eles ampliam o poder de comunicação do púlpito local para uma congregação universal. Há sempre um crente com um maravilhoso testemunho para escrever ou uma bênção surpreendente para contar. Se antes isto ficava restrito a uma eventual oportunidade no culto, hoje por meio do computador e um blog, as duas coisas podem ser compartilhadas em português, inglês, espanhol, para os cinco continentes. Ignorar isto é permanecer naquele velho atraso.

Como ativista desta causa, e com ajuda de muitos colegas espalhados pelo Brasil, principalmente os que administram a UBE - União de Blogueiros Evangélicos, difundimos um projeto em que vendíamos um sonho onde cada líder cristão deveria criar e editar um blog de conteúdo cristão. Se os bancos, os supermercados, a pornografia, os magazines, as universidades aproveitavam o internet para vender e ampliar sua clientela e melhorar sua comunicação, quanto mais blogs cristãos tivermos maior seria nosso poder de comunicação.

E a comunicação não seria o fim, mas  o meio,  o meio para atingir o principal que, na minha visão, se trata de criar formadores de opinião: jornalistas, mestres, escritores, políticos,  poetas, esportistas, etc. Como toda certeza, podemos dar graças a Deus  e trabalhar por  isso.

A quantidade de pastores e outros líderes da Igreja que têm invadido a blogosfera evangélica para escrever, comunicar, testemunhar, pregar, criticar, aconselhar tem sido sempre crescente. E põe crescente nisto. Sei que muitos ainda têm preguiça de escrever e fazem parte dos "copiadores", mas, não é precisao escrever bonito para dizer que Jesus é bom. Basta começar.  Ter paciência e continuar. Ninguém começa correndo. É preciso pegar o gosto, engatinhar, levantar, andar, para depois correr. O que na verdade é preciso é ter paixão por aquilo que faz. Somos filhos de um Deus que ama as palavras. Que há milhares de anos se preocupou em deixar sua vontade por escrito. Por palavras escritas. Se o Espírito de Deus habita em nós, logo, o impulso de escrever vai estar presente.

Quando leio a história de Donald Stamps, o comentarista da Bíblia de Estudos Pentecostal, eu fico admirado pelo resultado magnífico que este missionário americano deixou. Morreu antes de ver seu sonho concretizado.  Sua letra era difícil de entender. Mas o objetivo foi muito além do esperado. A imprensa de Gutemberg e a Bíblia de Lutero influenciaram o mundo por mais de 500 anos.

E hoje, no limiar de uma tecnologia muito mais eficiente, ouvir de alguns líderes evangélicos, principalmente do nosso povo erudito que ministra nas escolas dominicais, que não têm tempo para coisas pequenas, eu perco a calma. Recordo-me da frase do poeta inglês John Donne no começo do Livro "Por quem os Sinos Dobram", escrito por Ernest Hemingway.  Eis a frase:

"Nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo; se um seixo for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se fosse um promontório, assim como se fosse uma parte de seus amigos ou mesmo sua; a morte de qualquer homem me diminui, porque eu sou parte da humanidade; e por isso, nunca procure saber por quem os sinos dobram, eles dobram por ti.”

Se em 2005 era promissor escrever e publicar conteúdo cristão na Internet, hoje isto é muito mais interessante. Há muitos formadores de opinião não-cristãos que escrevem textos belíssimos. Gosto de ler de  vez em quando  Nizan Ganaes, Arnaldo Jabor, Carlos Heitor Cony, Lia Luft. Vivemos em um país onde a manipulação do coração dos pobres tem perpetuado governos ruins no poder. É preciso falar a verdade, inclusive as verdades que deixamos de ver em nosso meio.

O que tenho visto de negativo na blogosfera evangélica? O gosto pela crítica gratuita aos líderes que estão em evidência. Em vez de se preocupar com a beleza, com a erudição, com a criatividade, tenho visto a baixaria, a inveja, o texto negativista que afugenta o leitor e causa uma primeira (má) impressão qual os pregadores da Praça da Sé, do Centro de São Paulo.

Conteúdo cristão não precisa ser necessariamente comentários de textos bíblicos. É escrever com  lentes, coração e mente cristãos. Como eu não posso sentir a presença de Deus em uma droga de texto (ou uma centena de textos repetitivos) que só fala mal dos outros? Ora, isto me traz à lembrança a cretinice do diabo no começo do Livro de Jó.

Há milhões de almas sedentas de amor. Milhares de almas buscando a morte. Centenas de milhares precisando ler uma frase que leve o Espírito de Deus para seus corações. Não que tudo em um blog deva ser textos homiléticos. No entanto, é preciso dar uma referência positiva e cantar as boas coisas que Deus tem feito, para nos contrapor às torrentes de ações do diabo que são trombeteadas nos jornais nacionais da vida.

O Google tem mantido a gratuidade dos Blogs. A maioria deles, na língua portuguesa, é de evangélicos. É interessante para a empresa e interessante para nós. Sem nenhum exagero, o Google tem sido uma das maiores portas de divulgação da palavra de Deus escrita que conheço. E há espaço para mais um milhão de blogs ali.

Há muitos assuntos a explorar. Marcar nosso ponto de vista sobre atualidades. Principalmente as boas, sem deixar de lembrar as mazelas da nação e o desperdício de dinheiro público. Por exemplo? A derrubada de uma escola perto do estádio do Maracanã para abrir caminho para o esporte.  Pelo baixo investimento no ensino em Belo Horizonte, porque estouraram o orçamento das reformas do Mineirão. Do projeto do trem bala que vai gastar mais de 70 bilhões de reais, porque é "muito" interessante tocar grandes obras no ano das eleições majoritárias para encher os bolsos dos candidatos de propina para bancar campanhas políticas.

Sim tem muitas coisas para descer o verbo. Meu "xará" nos tempos de Jesus já fazia isto.

O que tenho visto na Blogosfera Evangélica? Centenas de colegas blogueiros se tornando escritores e publicando seus livros. Em que oficina literária eles praticaram? Nos blogs!

Falar é bom, mas escrever é melhor. Quem escreve, acumula conhecimentos, desenvolve a arte de trabalhar o texto. É bom que isto seja desenvolvido no meio cristão. A música gospel está chegando lá. Os escritores evangélicos também. Não me refiro àqueles que têm os livros vendidos apenas em lojas evangélicas. O que é bom deve ficar à venda em todo lugar onde se venda livros. E por falar nisso, sempre que passo na frente da Livraria Loyola da Rua Barão de Itapetininga, no Centro de São Paulo, eu vejo três livros expostos na frente de todos os outros: Cinquenta tons disso, daquilo e daquilo outro. Será que em nossa terra nunca veremos um homem, cristão, que não escreva apenas  sobre o próprio umbigo, que um dia possa ter seus livros à venda na frente de todos os outros?:

Minha resposta: Esta pessoa pode ser você, cristão, que por preguiça ou conforto, prefere ver entre livros de besteiras sadomasoquistas vendendo como água nas livrarias da Cidade. Quando é que você vai começar? no ano que vem? Por que não agora?

O futuro dos blogs evangélicos é promissor. Promissor, porque editar um blog é trabalhar em uma oficina de palavras. Um blog não é um fim, mas o começo e o meio de uma vida literária produtiva. Ninguém começa grande. Todos nascemos pequenos. E crescemos quando começamos a engatinhar, andar e correr. A literatura de nossos filhos e netos estará disponível no monitor de uma TV Digital, de um tablet ou de alguma outra forma de leitura virtual.

Se você ainda não tem um blog, tem bom ânimo: dê o primeiro passo. O blogueiro criativo de hoje, será o grande formador de opinião de amanhã. 

A paz do Senhor. Feliz Natal!








sábado, junho 12, 2010

O perigo da insatisfação na vida diária do cristão


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Cruzando o Mar da Galiléia


"De que se queixa, pois, o homem vivente?

Queixe-se cada um dos seus pecados."

Lamentações 3.39

João Cruzué

Quero refletir um pouco sobre as dificuldades de orientação que nós cristãos, já conhecedores da Palavra, enfrentamos ao ficar insatisfeitos pensando na Igreja perfeita, um porto seguro para congregar com a família em tempos tão profanos. Um dilema bastante comum em nossos dias.

A Igreja do Senhor é perfeita, todavia, constituída de membros imperfeitos que por opção pessoal podem ser lapidados ou não pela palavra. Não sei porquê, mas por duas vezes Ernest Hemingway passou pela minha mente quando dei título ao post, e neste parágrafo em particular, lembrei-me daquele prefácio do pastor anglicano John Donne no Livro "Por Quem os Sinos Dobram":

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.


O individualismo, hoje, tem um viés mais forte do que nunca e o isolamento pode produzir e alimentar em nós uma profunda insatisfação com a própria Igreja. É neste ponto que começamos a ver no próximo defeitos que na verdade julgamos que não estão presentes em nós.

Certa vez Jesus ordenou aos discípulos que cruzassem o "Mar" da Galiléia, enquanto ficou para trás. Ele foi orar. Interessante: Se Jesus era Deus, por que precisava orar? A resposta que achei foi: o prazer da comunhão. De estar em contato com o Pai. Há uma didática (antiga) neste hábito: se o que era Perfeito buscava comunhão, para suas orientações diárias, então, nós cristãos por mais "sabidos" que somos, também necessitamos do mesmo hábito, para manter viva a mesma comunhão.

Os discípulos corriam perigo. O Senhor os viu em plena luta e os socorreu. Entrou no barco, repreendeu o vento e mandou que o mar se calasse. Há muitos cristãos à deriva, açoitados pela força do vento e pela fúria do mar. O vento das novidades, o mar do secularismo e a fúria de um olhar crítico. Ficamos insatisfeitos e esta insatisfação pode ser benéfica ou perigosa, dependendo do caminho que tomarmos.

A crise de identidade evangélica pode nos levar a um aumento da sede de comunhão com o Senhor. Neste sentido, é Deus quem nos coloca no barco e manda que atravessemos o mar. Embora não esteja no barco o tempo todo, ele o observa atentamente. Isso produz experiência, crescimento, e desejo de maior comunhão.

Outro tipo de crise de insatisfação pode nos açoitar - como fez com o filho pródigo. Esta não produz sede de oração, nem desejo de comunhão com Deus. Ela é perigosa, pois nossos olhos focam apenas defeitos naquilo que observam: excesso de ortodoxia, liturgias adormecedoras, pastores ignorantes, antagonistas em lugar de irmãos, Teologia da Prosperidade entrando e saindo dos púlpitos, Política secular ocupando mais tempo de pastores que planos eclesiásticos. Aí o mundo começa a parecer mais justo que a própria Igreja. Aqui mora o perigo.

Não havia nada errado com com a Casa do Filho Pródigo. O coração do moço foi sendo envenenado aos poucos pelo seu (ou de outrem) pensamento crítico exagerado. Sua insatisfação pessoal o levou ao desvario, depois ao desvio, ao desperdício e à derrota. Foram as orações do pai que o trouxeram de volta, pois coube ao jovem o benefício da inexperiência.

A insatisfação de cristãos experientes pode ser mais complexa. E muito mais perigosa. É a insatisfação do filho mais velho da parábola que começou a criticar a justiça do próprio pai. Eu fico pensando, é bem possível que a causa do "envenenamento" da mente do irmão caçula tenha sido as críticas do primogênito. E esta também pode ser a mesma explicação para tantos filhos de crentes tomar o destino do mundo, envenenados pelo criticismo dos mais velhos, que parecem-se mais com o "promotor" de Jó.

Se por um lado é difícil encontrar a Igreja perfeita, aquela que possa satisfazer a visão de cada um, por outro, o conhecimento bíblico de lidar com a situação já faz parte da bagagem. Se Jesus, que era muito mais experiente, sábio, tinha seus problemas de orientação e solidão e os resolvia através de mais comunhão, não há outro caminho senão buscá-la através de orações individuais ou em cultos domésticos.

O Senhor era profundo conhecedor dos corações e da hipocrisia humana. Não desperdiçava seu tempo anotando defeitos, nem murmurando das pessoas, nem jogando-lhes em face seus pecados. Por então um crente deveria adotar este comportamento tão mesquinho e maligna? O diabo sim, quando nos vê, só enxerga coisas ruins. Mas Jesus não é assim: Ele nos vê com olhos compassivos. Ainda que só tivéssemos mil deifeitos e apenas uma virtude, é sobre ela que Ele focaria seus olhos para depois nos animar.

O mar está revolto por causa da fúria do vento? O barco parece furado e parece menor que as ondas do mar? Quem sabe a solução não esteja em abandonar o barco, mas em trazer Jesus para dentro dele?

Ao dedicar mais tempo para estar na presença do Senhor, os defeitos dos homens diminuem e nossas escolhas têm menos chances de afundar. Pior: de fazer afundar a vida espiritual dos mais jovens em nossa própria casa.


cruzue@gmail.com

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