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domingo, novembro 25, 2012

Texto do discurso de posse do Ministro Joaquim Barbosa


"O Judiciário que aspiramos a ter
é um Judiciário  sem firulas, sem floreios, sem rapapés"

Foto: Roberto Stuckert Filho
Ministro Joaquim Barbosa e os cumprimentos da Presidente Dilma Roussef
Autor: Ministro Joaquim Barbosa/Presidente do STF

Compilado do Youtube por João Cruzué*

"Excelentíssima Senhora Presidente Dilma Roussef, em nome de quem cumprimento todas as autoridades aqui presentes.    Excelentíssimos Senhores Ministros do Supremo Tribunal Federal. Minhas senhoras, meus senhores.

O Brasil é um país em franca e constante evolução. Um olhar retrospectivo e generoso sobre o nosso pacto sócio-político e sobre a nossa história como nação nas últimas cinco ou seis décadas, revelará sem dúvida  a trajetória vitoriosa de um povo que soube desvencilhar-se da nada confortável posição de quase pária no concerto das nações livres.

Esta posição, evidentemente, decorrente das graves iniquidades pelas quais éramos caracterizados. E passou a ingressar no seleto grupo das nações respeitáveis cujas instituições políticas podem sem a menor sombra de dúvida servir de modelo a diversos Estados cuja institucionalidade ainda está em vias de construção.

Embora todos nós estejamos frequentemente prontos  a exercer o nosso sagrado direito de crítica quanto ao funcionamento dessa ou daquela engrenagem estatal, que as vezes teimam em expor as suas mazelas e as suas debilidades intrínsecas, hoje, pode-se dizer que temos instituições sólidas submetidas cada vez mais a observação e ao escrutínio atento da sociedade, de outras nações e da comunidade jurídica internacional.

Tudo isto é extremamente positivo e não temos porque nos queixar, sobretudo se comparar o estado atual de nossa institucionalidade com aquela que tínhamos cinco  décadas atrás. Não se pode falar em instituições sólidas sem o elemento humano que as impulsiona. Uma vez que estamos em uma casa de justiça, tomemos como objeto de reflexão o homem, o homem magistrado.

O bom magistrado é aquele que tem plena e total consciência de seus limites e das limitações que lhe são impostas pela sua condição funcional. Não basta ter uma boa formação técnica, humanística e forte apego a valores éticos, que em realidade devem ser guias comportamentais de qualquer agente estatal e mesmo de agentes privados.

O juiz deve ter presente o caráter necessariamente laico da missão constitucional, da missão constitucional que lhe é confiada, e velar para que as suas convicções e crenças mais íntimas não contaminem a sua atividade, que é uma das mais relevantes para o convívio social, além de fator de fundamental importância para o bom funcionamento de uma economia moderna e de uma sociedade dinâmica,  inclusiva, e aberta a toda e qualquer mudança  que traga melhorias para vida de todas as pessoas.

Pertence definitivamente ao passado a figura do juiz que se mantém distante e indiferente, para não dizer inteiramente alheio aos valores fundamentais e aos anseios da sociedade,  na qual ele está inserido. Se é certo que a noção de liberdade comumente aceita entre nós  impede que  se exija do juiz a adesão cega a  todo e qualquer clamor da comunidade a que serve, mais certo ainda é o fato de que,  no exercício da sua missão constitucional, o juiz deve, sim, sopesar e ter na devida conta os valores mais caros à sociedade na qual ele opera. Em outras palavras, O juiz é um produto do seu meio e do seu tempo. Nada mais ultrapassado e indesejável do que aquele modelo de juiz isolado, fechado,  como se estivesse encerrado em uma torre de marfim.

Evidentemente, depois de abordar  nestas rápidas  palavras   a figura do juiz, penso que é imperioso emitir umas poucas palavras sobre a instituição que o congrega – a Justiça, o mais precisamente o Poder Judiciário, já que essa instituição estatal simboliza um dos poderes da República.

A justiça por si só, e só para si, não existe. Só existe na forma e na medida em que os homens a querem e a concebem. A justiça é humana, histórica.  Não há justiça sem leis nem sem cultura. A justiça é alimento ínsito ao convívio social, daí porque a noção de justiça é indissociável da noção de igualdade. Vale dizer, a igualdade material de direitos, sejam eles direitos juridicamente estabelecidos ou direitos moralmente exigidos. Em outras palavras, quando se associam justiça e igualdade,  emerge na sua inteireza o cidadão reivindicar o mais sagrado dentre os seus direitos, qual seja, o direito de ser tratado  de forma igual, de receber igual consideração, a mesma que é conferida ao cidadão "A" ou ao cidadão "C" ou "B".

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"O judiciário que aspiramos a ter 

é um judiciário sem firulas, sem floreios, sem rapapés"
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 A falácia sobre o direito à igualdade, sobre os direitos à igual consideração, é preciso ter a honestidade intelectual para reconhecer que há um grande déficit de justiça entre nós. Nem todos os brasileiros são tratados com igual consideração quando buscam o serviço público da justiça. Ao invés de se conferir ao que busca a restauração dos seus direitos,  o mesmo  tratamento, a mesma consideração que é dada  a uns poucos,  o que se vê aqui e acolá, não   sempre - é claro, mas às vezes sim, é o tratamento privilegiado, o bypass a preferência desprovida de qualquer fundamentação racional.  Gastam bilhões de reais anualmente para que tenhamos um bom funcionamento da máquina judiciário. Porém é importante que se diga,  o judiciário que aspiramos a ter é um judiciário  sem firulas, sem floreios, sem rapapés, pelo menos na minha concepção.

O que buscamos é um judiciário célere, efetivo e justo. De nada valem as edificações suntuosas, os sofisticados sistemas de comunicação e informação se naquilo que é essencial a justiça falha. Falha porque é prestada tardiamente, e não raro, porque presta um serviço que não é imediatamente fruível por aquele que o buscou. Necessitamos com urgência de um maior aprimoramento da prestação jurisdicional, especialmente no sentido tornar efetivo princípio constitucional da razoável duração do processo.

Esta razoável duração do processo, se não observada em todos os quadrantes do judiciário nacional, suscitará em breve o espantalho capaz de afugentar os investimentos produtivos de que tanto necessita a economia nacional.  O grip lock econômico resultante da ineficácia dos mecanismos de solução rápida dos conflitos de natureza econômica, é o tipo de entrave que nós pessoas portadoras de grande responsabilidade devemos a todo custo evitar.  E  nesse ponto, a responsabilidade que recai sobre o judiciário não é nada desprezível.

E o que é razoável duração do processo?  Apenas para ser ilustrativo, permito-me dizer o que não é:
-Não são os processos que se acumulam nos escaninhos das salas dos magistrados;
-Não é a pretensão de milhões que se arrastam por dezenas de anos.
-Não é a miríade de recursos  de que se valem aqueles que não querem ver o deslinde da causa deslinde da causa;
-Não são, em absoluto, os quatros graus  de jurisdição que o nosso ordenamento jurídico permite;
-Justiça que falha e que não tem compromisso com a sua eficácia, é justiça que impacta direta e negativamente sobre a vida do cidadão.

Por fim, eu gostaria de arrematar esta breve exposição com umas poucas palavras sobre um personagem chave para toda e qualquer tentativa que se queira implementar no nosso país na esfera do Poder Judiciário. Falo da figura do juiz, esta figura tão esquecida, às vezes. É preciso reforçar a independência Juiz. Afastá-lo desde o ingresso na carreira das múltiplas e nocivas influências que podem paulatinamente lhe minar a independência. Essas más influências podem se manifestar tanto a partir própria hierarquia interna a que o jovem juiz se vê submetido, quanto dos laços políticos de que  ele pode às vezes se tornar tributário na natural e humana busca por ascensão funcional e profissional. Nada justifica, a meu sentir, a pouco a edificante busca de apoio para uma singela promoção do juiz do primeiro ao segundo grau de jurisdição. O juiz, bem como os membros de outras carreiras importantes do estado, deve saber de antemão quais são as suas reais perspectivas de progressão, e não buscar obtê-las por meio da  aproximação ao poder político dominante no momento.

O poder judiciário passa por grandes transformações e por uma inserção sem precedentes na vida institucional brasileira, como bem salientou ainda há pouco o ilustre Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Nesta casa, e nos demais tribunais deste país, são discutidas cada vez mais as cada vez mais centrais questões de interesse da vida do cidadão comum brasileiro. Isso é muito bom, é muito positivo.

Antes de encerrar, eu não poderia deixar de mencionar umas poucas palavras a algumas pessoas queridas que se fazem aqui presentes. Em primeiro lugar a minha querida mãezinha, senhora Benedita da Silva Gomes [muitas palmas]. Ao meu querido filho, Felipe Barbosa Gomes, aos meus irmãos Gualberto, Efigênia, Elda, Edna, Aparecida, todos os que aqui se encontram presentes.

Aos meus queridos amigos estrangeiros que se deram o trabalho de se deslocar de suas ocupações habituais para vir ao Brasil me prestar esta homenagem, prestigiar esta minha investidura [nomes]
Agradeço a honrosa presença de todos."



* permitida a cópia, por solitação expressa.



sábado, novembro 24, 2012

Uma pituca da Assembleia de Deus no Supremo Tribunal Federal



Irmã Benedita da Silva Gomes
Mãe do Ministro Joaquim Barbosa, Presidente do Supremo Tribunal Federal
 "Mas, como está escrito:  
As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu,
 E não subiram ao coração do homem, 
São as que Deus preparou para os que o amam."
I Coríntios 2:9.
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João Cruzue

Confesso que fiquei orgulhoso do testemunho do Ministro  Ministro Joaquim  Barbosa por ter convidado e escolhido um assento no meio da primeira fileira de cadeiras do plenário do STF para receber  a mãe,  para participar da cerimônia de posse do ilustre filho na cadeira mais alta do Supremo Tribunal Federal.  Eu, que já me cansei de ver o preconceito (pseudo moderno) me senti "vingado" e realizado ao ver Irmã Benedita  da Silva Gomes e sua pituca assembleiana, sendo recebida com honra e cumprimentada com admiração pelas maiores autoridades da nação - entre elas, a Presidente Dilma Roussef.

Com aquela grande sabedoria das idôneas senhoras assembleianas  adquirida nas reuniões semanais  de Círculo de Oração, a ex-lavadeira de roupas deu fiel testemunho do filho, agora  Presidente do STF, em poucas palavras: "O que eu dei foi oração, [o resto] ele lutou por conta própria."  Disse também: "Passei os últimos 52 anos orando pelos meus filhos".  Questionada se o filho, agroa Presidente do Supremo, tinha o hábito de orar, ela foi sincera: "Ele pode [até] não orar, mas lê a Bíblia e foi criado no Evangelho.

Irmã Benedita é mãe de oito filhos e Dr. Joaquim, é o primogênito. Aceitou Jesus lá pelo ano de 1960, quando ele tinha seis anos. Quando o pai abandonou o lar, Irmã Benedita enfrentou a bacia de lavar roupa para os outros - naquela época imagino que ainda  não havia tanque. Joaquim, sendo o mais velho, foi  para Brasília trabalhar e ajudar no sustento dos outros sete irmãos.

Certas coisas e certos detalhes nunca são comentados, mas ficam explícitos a uma pequena análise. No momento, o Ministro Joaquim Barbosa é o cidadão mais respeitado pelo povo brasileiro, que não tem tido sorte de encontrar referenciais - nos últimos anos - em  meio de suas autoridades, quer sejam civis, militares ou religiosas.

 Paulo, o Apóstolo dos gentios,  escreveu, na Primeira Carta aos Coríntios, este  texto magnífico: 

"Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. E Deus escolheu as coisas vis deste mundo, e as desprezíveis, e as que não são, para aniquilar as que são."

Eu quedei e fiquei analisando: O que foi mais decisivo na vida do Ministro Joaquim Barbosa para que se tornasse, no momento, a melhor referência de justiça  conhecida entre todas autoridades brasileiras: as orações da mãe, a mão de Deus, ou a sua  determinação e aplicação aos estudos?

Se Barack Obama tinha muitas possibilidades de se tornar um delinquente social, em vez de se conquistar por duas vezes a Presidência da nação americana,  que chances então teve o moço  Joaquim Barbosa, sendo negro, pobre e árrimo de uma família abandonada pelo pai?

 O papel da mãe,  Irmã Benedita Gomes da Silva, foi fundamental. Foi o Senhor Jesus  que ensinou aos discípulos o  grande segredo da a oração persistente: o dever de orar sempre e não desfalecer.

Tenho certeza, que por muitas vezes o nome do moço Joaquim, longe de casa, trabalhando e estudando lá em Brasília, foi lembrado e apresentado no Círculo de Oração de senhoras em Paracatu, frequentado por Irmã Benedita. 

Foi Deus, com sua boa mão, que prosperou a vida do adolescente Joaquim Barbosa e cuidou para que ele fosse conduzido por caminhos de paz. Do restante Joaquim correu atrás. Correu atrás do conhecimento até os últimos degraus. Do primário à UnB ele sempre estudou em Escola Pública. Fez dois doutorados na França. Fala fluentemente cinco indiomas, além do Português. Hoje ele é Presidente do Supremo Tribunal Federal, mas nos tempos de adolescente ele também foi faxineiro.

Muitas autoridades e artistas convidados olharam para aquela senhora negra, assentada bem ao centro da primeira fileira de cadeiras do pelanário,  vestida com  trajes conservadores, ostentando na cabeça  uma  pituca grisalha. Certamente devem ter percebido que se tratava da mãe do ministro Barbosa. O que deve lhes ter causado surpresa foi descobrir que a mãe do protagonista da festa era uma senhora crente. Digo isto, não para orgulho ou dizer que as pessoas crentes são melhores que as outras. Não. digo isto, porque por causa do preconceito que sempre foi grande, diminuiu, mas  ainda existe no meio da sociedade.
 
Há tantas coisas ruins acontecendo por aí... e certas pessoas elevam suas frontes para cima e põem a culta em Deus. De fato, há mesmo muitas coisas ruins acontecendo e muitas pessoas destruindo e sendo destruídas umas pelas outras. 

Mas aí eu paro, e faço esta pergunta para mim mesmo: Por trás das pessoas envolvidas nestas coisas ruins, havia  uma mãe que tinha o hábito de orar, um filho que lia a Bíblia e um Deus  como referência central da família?  O que estou dizendo,  não é  o exemplo  exato da noção de fundamentalismo cristão - tão criticado? Talvez seja criticado, porque funciona.

 A corrupção para mim é um ato de loucura. O que aconteceu na vida do Ministro Barbosa foi um milagre de Deus, demonstrando para toda sociedade que se não houvesse tanto roubo e tanto desvio de dinheiro a existência de outros Barbosas seria a regra, sem a necessidade de milagres. 

Quando o  Ministro  Barbosa foi escolhido para relatar  a Ação Penal 470,  sendo ele negro e tendo em sua história um passado de pobreza, preconceito e privação, eu não vejo de outra forma, senão o falar de Deus a nossa nação. Por que  justo a Joaquim foi dado a responsabilidade de relatar o mensalão? E por que ele tem se mostrado tão atrevido, com um comportamento tão criticado entre seus pares e por causa da língua tão ferina e sem papas?  Para mim isto  pode não ser só coincidência. As orações da mãe produziram na vida do filho uma resposta muito maior do que ela sequer poderia imaginar.  E este é o padrão de resposta divina à oração persistente. E por persistente, aqui, não me estou referindo a rezar um rosário, mas a dialogar com Deus com palavras sinceras e não decoradas.


 "Mas, como está escrito: 
As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu,
 E não subiram ao coração do homem, 
São as que Deus preparou para os que o amam."

Este presente de renovação da esperança na justiça que o povo brasileiro está recebendo no Natal, não é outra coisa senão o resultado de 52 anos de orações "perturbando" os ouvidos de Deus.

Para minha irmã assembleiana, de trajes crentes e  pituca grisalha, este é meu  versículo deixado  para sua meditação. Como também aproveito a oportunidade para agradecer a Deus pela vida da senhora, do seu filho Joaquim Barbosa e  por que se lembrou da falta de referência e esperança na justiça de nosso povo mais simples, que "quase" já tinha desanimado e se acostumado aos jultamentos de faz de contas dos grandes corruptos da sociedade brasileira.




 .